Um teatro colorido com pano de fundo todo negro.


T.E.A – Teatro do Encantamento e da Ancestralidade Africana, ou
Um teatro colorido com pano de fundo todo negro.

Por Jonas de Jesus


Quando eu estou criando meu presente, levando em consideração e respeito os ensinamentos ancestrais, eu estou também criando um novo saber, para que em outro tempo possa servir de base para outros criarem seu presente, isso acaba se transformando numa ciranda que se renova a cada vez que nasce um filho, pois esse por sua vez irá criar o seu presente levando em considerações aos ensinamentos dos seus, agora velhos Griôts e/ou ancestrais, antepassados, assim nessa circularidade o meu presente se torna sabedoria ancestral ou como queira o mestre Wellington Pará “sabedoria dos antepassados".

É assim que vejo o T.E.A - (Teatro do Encantamento e da Ancestralidade Africana) como um desses aprendizados que se pode dialogar, sem perder as referências do tempo passado, que tem a função de sempre nos guiar para que não esqueçamos nunca a nossa verdadeira identidade, diferentemente das receitas pré-estabelecida de formação de atores/atrizes, como diz mais uma vez nosso mestre em sua pesquisa de mestrado”...esse blog dissertativo não é uma gaiola de receitas sobre formação teatral”, daí o porque de o meu texto ter como subtítulo Um teatro colorido com pano de fundo todo negro. O colorido que me refiro aqui é todo o movimento de possibilidades e simbologia que se renova e que possa reafirmar essa pedagogia teatral do Baobá, e o pano de fundo todo negro é sem sombra de dúvidas a base de sustentáculo: o Candomblé Ketu-Nagô, a imagética do Culto Egungun e o maracatu de Fortaleza, em especial o Nação Baobá.

Aqui depois de me embriagar com essa obra que foi a conclusão da tese de mestrado do mestre Wellington Pará (FORMAÇÃO TEATRAL & O ENCANTAMENTO DA ANCESTRALIDADE AFRICANA - Caminhos e Encruzilhadas para uma formação assentada na cultura de Matriz Afrodescendente: culto Egungun & Maracatu de fortaleza), me arrisco a afirmar ainda muito tímido que esse trabalho é uma das leituras mais desafiadoras, dinâmica e contagiosa que eu já tive o prazer de ler, desafiadora porque esta o tempo todo desconstruindo referências eurocêntricas que nos foi forçadamente impregnada como sendo únicas verdadeiras e como regras, dinâmica porque nos apresenta um mundo de curiosidades além de trazer uma figura que mais que representa a palavra “Dinamicidade” que é o Exu, o quebra regras, regras essas que aqui só servem para nos afastar do que realmente somos, negros e negras, sendo assim é louvadíssimo o movimento desse “quebra regras”, e por fim contagioso porque quanto mais se descobre nas embriagadas palavra do Pará e nas citações de outros Griôts, mais se tem orgulho de ser afrodescendente. Esse trabalho é mais que um ebó de palavras poéticas adoçadas pelo mel das águas doces de Oxum, mãe desse rebento, mas é e tem a função de ser um instrumento de busca de uma identidade ancestral perdida ou nunca acordada. Aqui passo a melhor compreender o que nosso mestre do T.E.A quer dizer quando inúmeras vezes em nossos encontros do grupo Tambor de Rua nos fala que esse teatro é um enfrentamento, aqui depois dessa leitura finalmente começo a reafirmar com mais efervescências essa afirmação, realmente trata-se desse enfrentamento à favor da identidade própria que a muitos foi  e ainda é negada, e distante do padrão universal eurocêntrico da cultura Greco-Romana, judaico e cristão, como claramente nos alerta o mestre do mestre, Cunha Junho em citação nessa tese que acabo de conhecer (pág 69, citação).

“Que bloco é esse, eu quero saber é o mundo negro que viemos mostrar pra você” (ilê-Ayê). Esse é o ritmo que se segue a c@ntação desse Blog-dissertação (Pará), que traz dentro de suas inúmeras simbologias caminhos para a formação de pessoas em teatro. Também gostaria de dizer que se em nossos encontros trabalhamos com vendas para (re)aprender a brincar com nossos corpos, ou seja, a venda nos olhos como (re)descoberta de corpos ou como um fechar os olhos para o senso do ridículo, aqui esse blog-dissertativo serve como um tira vendas, um movimento contrário de nossos jogos brincantes, mas vale ressaltar que aqui nessa pedagogia a venda nos olhos é também para tirar outras vendas sensoriais que adquirimos durante séculos de fingimento, "finge que tu é que eu finjo que acredito". De concordância com a frase citada acima que inicia esse parágrafo do grupo afro ilê-ayê, esse trabalho que aqui se torna leitura obrigatória para os futuros atores/atrizes do Teatro do Encantamento da Ancestralidade Africana, é esse mundo negro que faço gosto de protagonizá-lo junto com meus amigos do tambor de rua, Gilvan de Sousa e Wellington Pará, bem como os meninos e meninas do baoba, e tantos outros que vibraram por essa vitória.

Há muito a desbravar dessa leitura, coisas como a relação da cultura ioruba, a transição dos autos reis congo no maracatu de fortaleza, as infinitas leituras linkadas, as máscaras dos egunguns, os dogons e outras infinidades de entrelinhas que ficam aguçando nossas mentes, mas para isso vale fazer uma nova (re)leitura para compreende ainda melhor todo esse mundo negro.




Fortaleza, 06, de setembro de 2010.   

Comentários

Unknown disse…
Faço parte desse bloco Negro e fico feliz em a cada dia ler sobre nossa verdadeira identidade e mais curiosa em saber sobre nossa afrocentricidade.