Onze dias



Será um novo dilúvio, que o Criador mandou, para que seja separado o joio do trigo? Quem sabe!? Eu não teria como confirmar essa hipótese. Agora eu tenho tempo demais, não fosse a preocupação em dias melhores, para poder colocar os pés na rua, ver pessoas, apertar as mãos e dar aquele caloroso abraço. Mas qual oportunidade, essa doença global, pode proporcionar para o mundo? Para a humanidade? O mundo todo está tão assoberbado de medo, que não assenta o pensamento. É hora e orar? De clamar pela misericórdia divina? De limpar o corpo dos vícios, carnais, mentais, psíquicos? De pedir perdão pelas vezes que se portou mal criado? Quem sabe!? Quem sabe não seja o momento de se encontrar com o próprio estado de espiritualidade, dentro de cada um de nós, e de refletir o impacto que tivemos nas vidas alheias, e nas nossas próprias. De fazer um balanço de como nos portamos, enquanto humano, até aqui, neste exato momento em que se ler esse texto. Será que de fato fomos humanos, uns com os outros, e conosco mesmos? Ou fomos fantoches de alguém, ou estivemos apenas mantendo as aparências, ou quem sabe até, funcionamos apenas para acumular riquezas, e pobreza, talvez. Sinto-me hoje, como aquele homem recluso dentro do bucho da baleia, esperando ser cuspido para fora, em busca de concretizar uma missão. Mas que missão será essa? Será que teremos a oportunidade de refazer esse caminho, até chegar ao objetivo fundamental, de nossa existência, na terra? Ou será que já está com data e hora contada, e não há mais o que fazer? Algo concreto, advindo desse estado de pandemia é que a raça humana é tão vulnerável, que agora se esconde, dentro de suas casas, com medo do caos que ela própria provocou. Como somos pequenos, diante da natureza, e da criatura criadora de tudo e de todos. Essa é uma verdade que se mostra, onde as soberbas caem por terra, diante da fragilidade da materialidade que somos. São onze dias de reclusão, isolamento, ou onze dias de introspecção? Regular o olhar, talvez seja um ponto de partida, ao invés de olhar para fora, para o outro, olhar para dentro, para si, e dentro deste templo, desta casa, perceber o que precisa ser concertado, reformado, aproveitado, descartado. Talvez essa seja a oportunidade de fazermos, aquela reforma intima tão necessária, para o processo de evolução da raça humana.

Jonas de Jesus
29 de março de 2020
Às 04h e 59min.
Brasil, Ceará, Fortaleza.

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